Artigo de Opinião | Rigor Mortis: A direita perde de novo as eleições legislativas
A não aprovação do orçamento de Estado seguiu-se com a dissolução do Governo e a marcação de novas eleições para o dia 30 de janeiro de 2022.
Não é causa efeito, ou sentido de obrigatoriedade, que o chumbo do orçamento tenha que ter como consequência a dissolução do Governo, mas foi a maneira mais inteligente que António Costa arranjou para provocar eleições antecipadas.
Por que é que António Costa quer eleições antecipadas? Para surpresa de António Costa o maior bastião socialista “Câmara Municipal de Lisboa” caiu. Para um político perspicaz como o antigo Primeiro Ministro foi um sinal claro que precisava de criar um logro para não perder as próximas eleições legislativas.
Ora vejamos, a solução governativa, a “geringonça”, foi na altura a forma mais habilidosa por parte de António Costa ser Primeiro Ministro e colocar Pedro Paços Coelho na bancada parlamentar como líder da oposição. Ainda assim, a “geringonça” também tem se mostrado muito útil ao Partido Socialista para absorver eleitorado do PCP e do BE.
Catarina Martins e Jerônimo de Sousa começaram a perceber que esta maioria à esquerda não é eleitoralista, nem tão popular como ambos pensavam ser:
O Bloco de Esquerda, mesmo evocando sempre que as alterações ao orçamento eram provocadas pela pressão dos partidos mais à esquerda, não foi suficiente para convencer o seu eleitorado, pelo menos o eleitorado mais conservador ou aqueles mais afetos às raízes da esquerda de Trotsky.
O PCP foi também quem perdeu força e deixou cair a sua implementação no território nacional, o PCP era visto por muitos como o partido anti-sistema o que ao longo do mandato foi perdendo bastantes eleitores para o CHEGA descontentes com o governo do PS apoiado pelos partidos da esquerda.
O chumbo do orçamento por parte destes dois parceiros tradicionais do PS traduziu-se não só pela tentativa do PCP e do BE recuperarem o seu eleitorado, mas também a inflexibilidade de António Costa para negociar com os seus parceiros políticos, claro sempre sem nunca se esquecer que pode ter maioria absoluta nas próximas eleições e não precisar desses partidos para governar.
António Costa fez a leitura correta pois ao provocar estas eleições sabia exatamente qual era a agenda política dos dois partidos (PSD, CDS) mais tradicionais e enraizados na democracia portuguesa. “-Conhece o teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; em cem combates, conquistaras cem vezes a vitória – Sun Tzu, Arte da Guerra”.
O CDS, incapaz de resolver a sua situação interna, começa a passar uma imagem de mau estar e tirania por parte do atual presidente do partido Francisco Rodrigues dos Santos. Claramente, no CDS todos querem as eleições menos a atual direção que fica assim fragilizada e sem legitimidade política para continuar a exercer as suas funções. Pois, para além dos militantes, agregou-se o descontentamento do grupo parlamentar visto que vários elementos pediram a sua demissão do mandato que lhes foi conferido pelos portugueses. Arrisco-me a dizer que o CDS pode não eleger nenhum deputado nas próximas legislativas.
Quem se apercebeu da estratégia de António Costa foi o PSD, que pelos vistos decidiu serenar o seu combate interno. Rui Rio e Paulo Rangel ao admitirem fazerem listas conjuntas estão a dar uma sensação de coesão, coordenação política, e estão a passar uma imagem estável para os portugueses.
Uma direita que não consegue agregar-se para contabilizar e multiplicar os seus votos não será suficiente para derrotar António Costa e o Partido Socialista nas próximas eleições autárquicas. Diferente da Iniciativa Liberal e do CHEGA, pois, estes partidos já é notório perceber que estão em total sintonia com a mensagem política, a passar a uma só voz. O PSD e o CDS vão fragilizados para as próximas eleições pois ainda irão estar a “lamber feridas” das suas disputas internas. O PCP e o Bloco de Esquerda vão tentar ao máximo recuperar o seu eleitorado perdido para o PS.
Mas mais uma vez, o grande vencedor vai ser António Costa e o Partido Socialista que vão ganhar as próximas legislativas. Vão renovar os seus ministros mais polémicos e reforçar a sua representatividade eleitoral o que, consequentemente, vai retirar argumentos políticos aos partidos opositores.
Eduardo Silva, Politólogo
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