“No setor empresarial, todos os dias nos aparecem relatos de dúvidas, dificuldades e, sobretudo, incertezas quanto à melhor forma de conduzir a gestão nestes tempos de grande ansiedade e perturbação”, Emídio Monteiro, presidente do Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa
Emídio Monteiro, presidente do Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa, realçou, em declarações ao Novum Canal, que “no setor empresarial, todos os dias nos aparecem relatos de dúvidas, dificuldades e, sobretudo, incertezas quanto à melhor forma de conduzir a gestão nestes tempos de grande ansiedade e perturbação”, numa alusão ao situação do atual quadro empresarial da região e ao programa de Estabilização Económica Social apresentado pelo Governo, na sequência da pandemia sanitária que continua a afetar a região e o país.
“No setor empresarial, todos os dias nos aparecem relatos de dúvidas, dificuldades e, sobretudo, incertezas quanto à melhor forma de conduzir a gestão nestes tempos de grande ansiedade e perturbação. A economia regional está fortemente assente em indústrias ligadas à produção de bens de grande consumo mundial. As empresas destes setores utilizam mão de obra intensiva e estão fortemente expostas à concorrência global. Temos o caso, a título de exemplo, do Calçado, o Têxtil e Vestuário, o Mobiliário… “, disse.
Emídio Monteiro esclareceu que as empresas dão conta de “perdas da capacidade produtiva pela indisponibilidade temporária da mão-de-obra (apesar de atualmente se verificar um grande esforço por parte das empresas em adaptarem e reorganizarem os seus trabalhos face às limitações que a pandemia tem imposto), perda de encomendas (sobretudo as internacionais), em função do decaimento da procura, assim como pela incapacidade de várias empresas locais cumprirem prazos de entrega;-dificuldade nos abastecimentos de matérias-primas a nível internacional; – dificuldades no recebimento do valor das encomendas, em função da queda da procura no retalho internacional; uma grande contração dos negócios em todas as empresas, mas essencialmente naquelas que requerem consumos diários dos seus clientes para sustentar o negócio, destacando-se os problemas que assolam a restauração e o comércio de proximidade”, avançou.
O responsável pelo Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa referiu que apesar de se assistir a algumas situações de despedimento, o regime de Lay-off simplificado tem permitido sustentar o emprego na maioria das empresas.
“Assiste-se já a algumas situações de despedimento mas, convenhamos, o enquadramento no regime de Lay-off simplificado tem permitido sustentar o emprego na maioria das empresas da região. Face ao caráter exportador da região, neste momento a preocupação reside também na recuperação económica dos países que tradicionalmente recebem os nossos produtos – um quadro que apresenta ainda muitas indefinições”, expressou.

Sobre os efeitos que a crise sanitária provocou no tecido empresarial, constituído essencialmente por pequenas e médias empresas, Emídio Monteiro, considerou que “os danos económicos são irreparáveis e muitas delas sobrevivem apenas porque estão ligadas a uma âncora familiar que as vai sustentando”
“É bem verdade que é essencialmente essa a composição da nossa estrutura empresarial e nessa medida alguns dos efeitos são, de modo particular, notados nestas empresas. Estamos a pensar nos pequenos negócios ligados ao comércio e serviços de proximidade em que a presença diária de clientela é vital para a sustentabilidade do negócio. Falamos de cafés, restaurantes, retrosarias, pronto-a-vestir, pequenas reparações, e um sem número mais de negócios. Nestes casos, quer por força do encerramento do estabelecimento no período de Estado de Emergência, quer pela acentuada redução da procura causada pela restrição à circulação de pessoas e as dificuldades no convívio social, os danos económicos são irreparáveis e muitas delas sobrevivem apenas porque estão ligadas a uma âncora familiar que as vai sustentando”, avançou.
“Apesar de grande parte terem toda a justificação e razoabilidade – perderam e perdem parte da sua utilidade pelo atraso na implementação”
Questionado sobre a eficácia e eficiência das medidas que têm sido apresentadas pelo Governo para fazer face aos problemas das empresas na região, o responsável pelo Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa assumiu que “apesar de grande parte terem toda a justificação e razoabilidade – perderam e perdem parte da sua utilidade pelo atraso na implementação”.
“As medidas apresentadas pelo Governo têm sido uma ajuda para muitas empresas – desde a moratória de créditos, lay-off simplificado e outros apoios excecionais, como os sistemas de incentivo via PT2020. Porém, francamente entendo que as medidas do Governo – apesar de grande parte terem toda a justificação e razoabilidade – perderam e perdem parte da sua utilidade pelo atraso na implementação. Como se percebe do que disse antes, nalguns casos estamos a falar dos meios de subsistência das empresas e não tanto da viabilidade económica de projetos empresariais. Havia que tratar estas situações com uma celeridade que na prática constatamos que não existiu. Entendo também que a região do Tâmega e Sousa foi e será uma região particularmente afetada pela crise económica subsequente à crise pandémica. Na verdade, como é sabido, esta região está ligada à produção de produtos de grande consumo e as nossas empresas estão fortemente dependentes dos mercados de exportação. Com a grande e, aparentemente, prolongada, contração da procura tememos que em breve o desemprego irá assolar dramaticamente esta região acompanhado de um número de insolvências a que já não estávamos habituados. É imperativo, portanto, atuar já e atuar de forma concertada para tentar reduzir o impacto de uma crise que infelizmente é fácil de antecipar”, recordou, lembrando que se as microempresas se não forem rapidamente ajudadas correm o risco de entrar em insolvência.
“Sim, sem dúvida. A entreajuda familiar que caracteriza as nossas gentes tem sido, na prática, a solução encontrada por muitas, mas o prolongamento da crise vai causar danos no património das famílias pelo que entendo que é preciso atuar com instrumento públicos que permitam reavivar os negócios”, adiantou, sustentando que o aumento do desemprego “é uma consequência inevitável dada a composição da nossa estrutura empresarial com empresas que utilizam mão de obra intensiva, que estão pouco capitalizadas e que se encontram fortemente dependentes da procura externa em mercados concorrenciais”.
“É um bom esforço público para suster a crise mas precisamos mais do que isso. Precisamos de restabelecer a confiança e isso depende de uma política de investimentos que ainda não vimos anunciada”
Esmiuçando o Programa de Estabilização Económica e Social, Emídio Monteiro reconheceu que urge restabelecer a confiança e fomentar uma política de investimentos, o que ainda não aconteceu.
“É um bom esforço público para suster a crise mas precisamos mais do que isso. Precisamos de restabelecer a confiança e isso depende de uma política de investimentos que ainda não vimos anunciada. Um bom começo para o restabelecimento da confiança passa desde logo por um Estado zeloso no cumprimento atempado das suas obrigações”, atalhou, confirmando que a medida que vai substituir o ‘lay-off’ simplificado a atribuir às empresas que tenham beneficiado do regime de ‘lay-off’ simplificado e mantenham quebras de faturação iguais ou superiores a 40% é uma forma de travar o crescimento do desemprego.
“É uma medida que saúdo pela possibilidade que terá de travar o crescimento do desemprego, mas também admito que não seja mais do que um paliativo se a crise de confiança, particularmente dos consumidores, se prolongar no tempo”, anunciou, manifestando estar, também, de acordo quanto ao incentivo financeiro extraordinário à normalização da atividade empresarial que o Programa de Estabilização Económico Social prevê.
“Sim, concordo. Espero, ainda assim, que sirva também para estimular o consumo pelo aumento da disponibilidade dos trabalhadores mas esse facto depende de fatores mais complexos que só com o tempo poderemos avaliar”, acrescentou, confirmando, ainda, que o PMECrescer+: Programa de aceleração de PME é uma mais-valia para as empresas, no sentido em que permite dotar as empresas das competências necessárias, desenvolver e potenciar a sua marca, adaptar-se a exigências regulatórias, direcionar crescimento para mercados externos.
“Sem dúvida. Todavia, temos que colocar no plano das boas intenções deste programa o nível de confiança no futuro dos nossos empresários o qual presentemente e pelas razões conhecidas é bastante baixo. Toda a economia depende de confiança e sem esse fator muito poderá claudicar”, asseverou.
Já quanto aos desafios com que as empresas estão confrontadas a curto/médio prazo, Emídio Monteiro manifestou que terão de investir fortemente em inovação e criatividade
As empresas terão que estreitar os canais de acesso aos consumidores e estimular novos hábitos de consumo. Assim, embora pareça paradoxal, é tempo de investir fortemente em inovação e criatividade. Daí que a aproximação às entidades do Sistema Científico e Tecnológico deve ser facilitada e descomplicada. Mais do que nunca é também necessário alargar a base de clientes, diversificando os mercados e recorrendo cada vez mais aos meios digitais, designadamente em plataformas de comércio eletrónico para chegar ao mercado global”, anuiu.
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